segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Corpo da Guitarra...



Que existem milhões de guitarristas e violonistas pelo mundo todos nós já sabemos, mas o que muitos realmente não sabem é como são feitos esses instrumentos que conquistam uma legião de fãs cada vez maior.

Nesse artigo, explicaremos da maneira mais didática possível todas as nomenclaturas dadas para as partes do corpo da guitarra, para quê servem, como é o seu funcionamento...


1. Mão / Paleta / Headstock

2. Pestana

3. Tarracha ou cravelha

4. Traste

5. Braço

6. Corpo

7. Captadores

8. Potenciômetros

9. Ponte

10. Escudo / Protetor de tampo


  • O BRAÇO

O braço da guitarra é composto basicamente de uma barra maciça e rígida de madeira fixada ao corpo. A madeira utilizada normalmente é de um tipo diferente da utilizada no corpo. Madeiras de grande resistência à tração são preferíveis e uma das mais utilizadas é o mogno (mahogany em inglês). É responsável pela fixação de uma das extremidades das cordas e também para permitir a execução das notas através da variação do comprimento das cordas. Fazem parte do braço: a “mão”, a pestana, a escala, os trastes e alguns elementos decorativos (geralmente de madrepérola, marfim ou ébano) utilizados na marcação.

Em guitarras acústicas e semi-acústicas, o braço é colado ao corpo. O tróculo é a extremidade mais larga do braço usada para fixá-lo ao corpo e dar rigidez mecânica à montagem. Em geral o tróculo é entalhado na mesma peça do braço, mas também pode ser uma parte separada e colada ao braço e ao corpo. Em guitarras elétricas, o braço pode ser fixado ao corpo por parafusos. Em alguns casos, um tirante é utilizado para se opor à curvatura provocada pela tensão das cordas. A fixação do braço é crítica para a afinação do instrumento, pois a variação no ângulo do braço em relação ao corpo pode provocar variações na altura das notas. Embora indesejável na guitarra clássica, este efeito pode ser usado propositadamente para obter certas inflexões na altura (bends), sobretudo no Blues.

  • Cabeças e tarrachas

A cabeça ou paleta é responsável pela fixação das tarrachas, usadas para afinar o instrumento. A cabeça é fixada na extremidade do braço formando um pequeno ângulo para facilitar o posicionamento das cordas sobre a pestana. Em geral é feita da mesma madeira do braço e entalhada com diversos motivos decorativos. A tarracha é um mecanismo composto de um eixo sobre o qual a corda é enrolada e uma engrenagem que permite girá-lo com os dedos até obter a tensão correta de cada corda. As engrenagens garantem uma relação de forças tal que impeça o afrouxamento das cordas durante a execução. Na maior parte das guitarras há três tarrachas de cada lado da cabeça. Em algumas guitarras elétricas é utilizada a configuração de seis cravelhas em linha em um dos lados da cabeça. Outras configurações são possíveis, como 4+2, 4+3 em violôes de 7 cordas. 6+6 em guitarras de 12 cordas e 2+2 ou 4 em linha para baixos e outros instrumentos de quatro cordas.

Seis em linha

Três de cada lado

  • Pestana

A pestana é uma pequena barra de osso, plástico ou madrepérola, fixada entre o início do braço e a cabeça. Possui um pequeno sulco entalhado para a passagem de cada corda. Isso permite o posicionamento correto das cordas. A pestana serve para apoiar as cordas na extremidade do braço. É o ponto de origem do comprimento das cordas e muitos o consideram como o traste zero. Hoje, em alguns modelos de guitarras elétricas, há pestanas especiais que possuem travas, como parafusos, que impedem que o instrumento seja desafinado na execução de alavancadas (vibratos artificiais).

  • Escala

Feita de uma madeira diferente do resto do braço, como ébano, a escala é a parte do instrumento onde as cordas são apoiadas quando o músico quer dividir a corda. É sobre a escala que os trastes são montados. Além disso possui várias marcas em forma de círculo, losangos ou triângulos, incrustradas por marchetaria. As marcas são geralmente de madrepérola, marfim ou ébano. Em alguns casos são simplesmente pintadas e servem para ajudar o músico a identificar as casas na escala. Geralmente é usada uma marca na 3ª, 5ª, 7ª, 9ª,12ª, 15ª, 17ª, 19ª,21ª e 24ª casas e duas marcas na 12ª, às vezes na 7ª e na 24ª (quando existente) casas. Em algumas guitarras elétricas estas marcas podem ser luminosas, com LEDs ou fibras ópticas.

Escala iluminada por LEDs

  • Alavanca

Parte da guitarra usada para efetuar um efeito chamado vibrato. Este efeito consiste em alterar a altura das notas de forma que elas transpacem a idéia de uma onda fluindo. Este efeito é muito utilizado em alguns ritmo agitados, porém é principalmente usado em ritmo de Rock.

  • Trastes

Os trastes ou trastos são pequenas barras (geralmente alpaca ou ligas de níquel) montadas sobre a escala e que definem os pontos exatos em que a corda deve ser dividida para obter cada uma das notas. Quando o músico encosta o dedo sobre uma corda ela pousa sobre a escala e fica apoiada sobre o traste. O comprimento vibrante da corda passa a ser aquele entre o traste e o rastilho.

Os trastes são montados nos instrumentos modernos para permitir que as guitarras tenham temperamento igual (oitava dividida em 12 semitons exatamente iguais). Consequentemente a razão entre as distâncias de dois trastes consecutivos é \sqrt[12]{2}, cujo valor numérico é aproximadamente 1,059463. Como essa razão é aplicada sucessivamente a cada intervalo, isso explica porque as casas próximas à pestana são mais largas que aquelas próximas ao corpo do instrumento. O 12º traste divide a corda exatamente na metade e o 24º (se existente) divide a corda em um quarto do comprimento total (entre a pestana e o rastilho). Cada doze trastes representam um intervalo de exatamente uma oitava.

A distância entre o rastilho e o nésimo traste, ou seja o comprimento vibrante da corda quando a corda pousa sobre o traste n é dada pela fórmula:

l=d\cdot2^{-n\over12}

onde d é o diapasão da corda (comprimento total da corda entre o rastilho e a pestana).

  • O CORPO

Guitarra acústica

Na guitarra acústica e também em algumas variedades semi-acústicas, o corpo tem as funções de caixa de ressonância e de fixação das cordas. O corpo é uma caixa oca feita de diversas madeiras. Geralmente tem uma abertura (chamada boca) na parte superior, necessária para amplificar o som das cordas e permitir a vibração do ar. Abaixo da boca é colado o cavalete, usado para fixar as cordas ao corpo. O cavalete possui furos para a fixação das cordas. Sobre o cavalete, é montado o rastilho, uma barra de madrepérola, osso ou plástico que serve para distanciar as cordas do corpo e da escala. Nas guitarras de flamenco, usadas no flamenco, um protetor de tampo é montado na parte do tampo abaixo da boca para que o músico possa realizar sons percurssivos com os dedos. Diversos elementos decorativos estão presentes no corpo, tais como mosaicos ou frisos de cores diferentes. Alguns instrumentos populares podem ainda ser pintados em diversas cores.

Guitarra elétrica

Na guitarra elétrica e no baixo, o corpo é uma peça maciça de madeira, geralmente maciça ou nos modelos mais populares, madeira laminada, pois isso produz instrumentos leves e muito rígidos, além de terem melhor sonoridade. As madeiras brasileiras mais comuns são o cedro, mogno, marfim, caxeta ou freixo (ash, em inglês). Em outros países são empregadas madeiras como alder (armieiro), basswood (tília americana), jacarandá, ébano ou bordo entre outras. Em geral estes instrumentos são revestidos por finas lâminas de madeiras mais nobres ou pintados, muitas vezes com motivos bastante elaborados e multicoloridos. O corpo é geralmente entalhado ou escavado para permitir a montagem dos equipamentos eletrônicos, da Ponte(cavalete) e outros equipamentos. Um protetor de tampo, chamado escudo pode ser acrescentado para proteger o corpo do atrito com a palheta.

  • Encordoamento

O som da guitarra é produzido pela vibração das cordas, que para tanto devem ser tensionadas e montadas de forma que possam vibrar livremente sem bater em nenhuma outra parte do instrumento. As cordas dos alaúdes e das guitarras antigas eram feitas de tripa (intestinos) de ovelhas cortadas em espessuras muito finas e torcidas. Atualmente elas são feitas de nylon ou de aço. As cordas mais finas, usadas para as notas mais agudas, são constituídas de um fio único. As mais grossas, na verdade, são cabos constituídos de uma alma (que pode ser de nylon, de aço ou de seda) envolta por uma espiral de um fio mais fino feito de aço. Esta construção permite maior resistência à tração, maior estabilidade de afinação e maior flexibilidade do que seria possível caso se usassem fios singelos também nas cordas mais grossas.

Cordas de aço geralmente possuem uma pequena esfera fortemente fixada a uma de suas extremidades para facilitar a fixação no instrumento. As cordas são fixadas aos furos existentes no cavalete através de um nó ou pela esfera, que por ser mais larga que o furo não consegue passar por ele, prendendo a corda. Em algumas guitarras ou baixos as cordas passam por furos através do corpo do instrumento e são fixadas na parte posterior do corpo. O rastilho é uma barra feita de osso ou plástico que é apoiada sobre o cavalete e sobre a qual as cordas são assentadas. A altura do rastilho é importante para definir a distância entre as cordas e a escala. O ajuste da altura é importante pois a afinação do instrumento pode sofrer variações se a distância das cordas for muito grande. Por outro lado, cordas muito próximas da escala podem encostar nos trastes ao vibrar, o que produz um ruído desagradável (trastejamento). A outra extremidade da corda passa sobre a pestana, depois é enrolada em espiral sobre o eixo das tarachas. Como a ponte e a pestana são mais altas que o braço e o corpo do instrumento, as cordas ficam estendidas e tensionadas entre essas duas peças e podem vibrar livremente quando dedilhadas ou tangidas por uma palheta. Geralmente as guitarras são construídas para serem tocadas com o braço na mão esquerda e o corpo na direita. Nesta posição, os sulcos da pestana são dispostos de forma que a corda mais grossa fique em cima e as mais finas embaixo. O rastilho ou ponte também não são simétricos. A distância entre as cordas e o corpo é maior para as cordas graves do que para as mais finas. Isso é necessário para evitar o trastejamento dos bordões, mas provoca alguns problemas de afinação. Quando a corda é pousada sobre a escala ela é esticada. O aumento na tensão aumenta ligeiramente a afinação da nota. Ainda que muito tênue esse efeito pode causar desafinações em alguns acordes. Para compensar esse problema, o cavalete é colado levemente inclinado. Assim, as cordas mais grossas (as que sofrerão maior tensionamento durante a execução) são ligeiramente mais longas que as mais agudas. Toda a montagem desses componentes é crítica e permite diferenciar a qualidade dos instrumentos feitos por diferentes luthiers.

Todas essas assimetrias obrigam a construção de versões diferentes de instrumentos para destros e canhotos. Muitos guitarristas e violonistas, no entanto adaptam o instrumento para a execução invertida. Alguns músicos simplesmente viram o instrumento e tocam com uma técnica espelhada. O problema desse método é que os bordões, geralmente tocados pelo polegar precisam ser tocados pelo indicador. Outros, como Jimi Hendrix fazem o encordoamento invertido em uma guitarra normal. Embora funcional, esse método pode levar a pequenas falhas de afinação. Estilos como o Blues, o Rock e o Folk, que utilizam muitos bends e vibratos não sofrem tanto com esses problemas de afinação, mas para a execução erudita com as mãos trocadas é essencial utilizar um instrumento especialmente construído para canhotos.

Hendrix tocando sua Fender Stratocaster invertida.

  • Afinação

Muitas afinações diferentes são possíveis dependendo da variedade do instrumento. A mais comum para instrumentos de 6 cordas é a “afinação padrão” (EADGBe). Note que a guitarra é um instrumento transpositor (as notas soam uma oitava abaixo do que são escritas). As notas abaixo correspondem à nota produzida pela corda solta:

  • sexta corda (a mais grave a que fica acima de todas as outras): Mi bordão (uma décima terceira menor abaixo do Dó central — aprox. 82.4Hz)
  • quinta corda: Lá (uma décima menor abaixo do Dó central — aprox. 110Hz)
  • quarta corda: Ré (uma sétima menor abaixo do Dó central — aprox. 146.8Hz)
  • terceira corda: Sol Sol (uma quinta justa abaixo do Dó central — aprox. 196.0Hz)
  • segunda corda: Si (uma segunda menor abaixo do Dó central — aprox. 246.92Hz)
  • primeira corda (a mais aguda): Mi (uma terça maior acima do Dó central — aprox. 329.6Hz)
A afinação padrão permite um dedilhado simples para a maioria dos acordes e também a execução de escalas com o mínimo de movimentos de mão esquerda.



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